segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Tarde alaranjada
Não vi os cacos se partirem
Entre esses dias vazios
Cheios de espaço,
De transbordante quietude.
Seriam os últimos?
E o seu sorriso se abre
Com o vento desta tarde alaranjada,
Coberta de solidão,
Coberta de estalos de lembranças.
Somos jovens já velhos,
Espantados com a pesada liberdade,
Com o sossegar dos que não pensam,
Com o bailar das folhas caídas,
Com o amor que ainda nos comove,
Quando, nesta tarde alaranjada,
Eu vejo o seu sorriso
E me sinto morto, em paz.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Cortejo
Olhos secos
Tais quais as bocetas velhas
Das carolas que descem
O cortejo fúnebre
Do filho bastardo do seu Menelau
Não sei como posso viver assim
Pensando naquelas bocetas mal-cheirosas
Olhando esse cortejo ignóbil
Sem um pingo de pena do seu Menelau
E com os olhos secos
Das carolas que descem
O cortejo fúnebre
Do filho bastardo do seu Menelau
Não sei como posso viver assim
Pensando naquelas bocetas mal-cheirosas
Olhando esse cortejo ignóbil
Sem um pingo de pena do seu Menelau
E com os olhos secos
* Imagem: detalhe do olho de São João,
do quadro A descida da cruz, de Roger van der Weyden.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Epifania III
UMA EXISTÊNCIA,
O FRUTO DO GOZO
DO MACHO E DA FÊMEA.
A NATUREZA NÃO TEM,
DE MANEIRA ALGUMA,
A PROCRIAÇÃO COMO FINALIDADE.
O MUNDO NÃO CARECE DE
MAIS UM SER PENSANTE.
MAS, MESMO ASSIM,
SE CRIA AFETO
PELO FETO.
E DEPOIS QUE APRENDEMOS
A ANDAR E NOS ALIMENTAR SOZINHOS,
DEIXAMOS DE RECONHECER
OS AUTORES DE NOSSOS DIAS.
UMA SERENIDADE INTENSA FARIA BEM,
MAS A NÁUSEA É MEU ESTADO NORMAL.
AO INVÉS DA TERNURA, UM TÉDIO PROFUNDO.
O TÉDIO DA EXISTÊNCIA,
A ANGÚSTIA DE SABER QUE SOU...
NADA. EXISTIDA.
Luiza Pontes
O FRUTO DO GOZO
DO MACHO E DA FÊMEA.
A NATUREZA NÃO TEM,
DE MANEIRA ALGUMA,
A PROCRIAÇÃO COMO FINALIDADE.
O MUNDO NÃO CARECE DE
MAIS UM SER PENSANTE.
MAS, MESMO ASSIM,
SE CRIA AFETO
PELO FETO.
E DEPOIS QUE APRENDEMOS
A ANDAR E NOS ALIMENTAR SOZINHOS,
DEIXAMOS DE RECONHECER
OS AUTORES DE NOSSOS DIAS.
UMA SERENIDADE INTENSA FARIA BEM,
MAS A NÁUSEA É MEU ESTADO NORMAL.
AO INVÉS DA TERNURA, UM TÉDIO PROFUNDO.
O TÉDIO DA EXISTÊNCIA,
A ANGÚSTIA DE SABER QUE SOU...
NADA. EXISTIDA.
Luiza Pontes
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Epifania II
A rua se estreitava em seu fim
E lá não havia mais a velha tabacaria,
Nem o cheiro de pombos da praça ao lado,
Já tão vazia.
Por um momento,
Pensei que o deserto em mim
Havia se desprendido de mim
E se estampava no concreto,
No empedrado da rua,
Nos bancos de madeira comida.
Mas era agora só um lado esquecido da cidade...
Percebi-me, então, comovido com minhas lembranças
Era o único que sabia que aquilo,
Em fato, existia, e que era meu,
E em parte, aquela praça,
Os bancos comidos,
O concreto, o empedrado,
A velha construção da tabacaria,
Em parte, eu as criei,
Pois eu as sinto, escuto a solidão ali restante...
Nem mesmo uma meretriz, para compartilhar,
De forma libidinosa,
A minha criação, aparece-me.
Sou tão só quanto esse lugar,
Tão só quanto Deus,
Sou Deus a contemplar uma criação,
Perdida, estranhamente sem vida.
Sou Deus a contemplar o cemitério de minha criatividade.
Meus olhos são divinos,
Repletos de humanidade,
De contemplação,
Sou o sacrifício
Das horas compiladas ao fim
Desta praça, deste canto,
Desta vida,
Eu acabo por criar para ser criado
E ser um abotoado de sensações.
-Já escurece,
Deus que não me escute,
Mas hoje, cuspi na sua lápide,
Ali, ao lado da tabacaria-
Vou-me embora.
Paulo Antônio
domingo, 8 de novembro de 2009
Epifania I
Vestiu-se ressabiado. Aquela que agora dormia não era a mesma que há pouco gozava. Algo mudou. Algo esvaiu-se. O coração ainda palpitava violentamente e o suor escorria. Mas ela já dormia.
O quarto abafado. A cama molhada e quente. O ventilador lento e decrépito. O cheiro forte de pontas de cigarro.
Cambaleante, dirigiu-se ao banheiro. Queria lavar-se. O espelho pequeno e cheio de manchas pretas tornava difícil uma imagem nítida. Melhor assim. Não faria bem ver nitidamente seu rosto cansado e profundo.
Sentou-se na latrina cor-de-rosa. A porcelana estava fria. Urinou. Os cotovelos na coxas. A cabeça entre suas mãos. Olhou para o seu pênis flácido e pensou: envelhecera.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Fado não é nome pra poesia
O nome poderia ser um fado
Mas fado não é tão alegre assim
Ou então me faça um fado nada coerente,
Invente, coloque o seu nome, um pronome,
Um caos de viver assim, feito louco,
Sem certeza de chorar
Quando de fato for fado
E aí, quem sabe, o nome faça sentido,
E cada lágrima justificará a vida
E tudo será apenas um nome
Nada demais.
Um fado sem nada, Fado,
Cacos de um dia qualquer, escorrendo no ralo do banheiro,
Ou privada a dentro.
E assim, Querida, Querido, a vida será
Fado, Samba, Punk, será uma boa Risada de amigos,
Amantes e alguns metidos no caminho,
Cuidado, a vida não é frágil
E Fado não é nome pra poesia,
É nome para uma das fantasias de viver!
Paulo Antonio
Mas fado não é tão alegre assim
Ou então me faça um fado nada coerente,
Invente, coloque o seu nome, um pronome,
Um caos de viver assim, feito louco,
Sem certeza de chorar
Quando de fato for fado
E aí, quem sabe, o nome faça sentido,
E cada lágrima justificará a vida
E tudo será apenas um nome
Nada demais.
Um fado sem nada, Fado,
Cacos de um dia qualquer, escorrendo no ralo do banheiro,
Ou privada a dentro.
E assim, Querida, Querido, a vida será
Fado, Samba, Punk, será uma boa Risada de amigos,
Amantes e alguns metidos no caminho,
Cuidado, a vida não é frágil
E Fado não é nome pra poesia,
É nome para uma das fantasias de viver!
Paulo Antonio
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