segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ATO #4






Florbela despenca ao seu mundopreto-e-branco.
Pesada de tempo,
com ânsia de mágoa,
o peito piando.


Na cabeceira dos anos, só tristezae poesia.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011



Da janela vejo o corpo
 Que se estende no espaço, em vívida vida,
Tão completo, tão completamente,
Que o corar de seu rosto cala a tristeza,
E o olhar, atento, vê a eternidade soprar-lhe...
Distraio-me, olho ao canto, vazio,
No sussurro do passar do vento;
Retorno os olhos à janela e passou,
Correu como quem vê distante o tempo,
Passou e vagou a rua, num silêncio marmorial,
Soprando a eternidade em minhas lembranças
E dói-me, deus, profundamente o coração.


Paulo Antônio.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

QUERENÇAS



Hoje acordei querendo cheiro de mato
Querendo a voz do silêncio
Querendo dias estáveis
Maravilhosas rotinas
Querendo amor de verdade

Hoje acordei com saudade
Querendo casa arrumada
Querendo abraços e beijos
sem fim

Hoje acordei querendo
E crendo
que dias melhores estão por vir.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um "Q" de Kahlo


Em dias de solidão,
quando a realidade se dá
nua e crua,
é possível notar:
aquilo que te mantém vivo
é também o que te mata.

E não se sabe quão melhor é
casar-se consigo
do que ter de doar-se a
indivíduo tão insuportavelmente
sincero.

Deixa-me, razão...
Sofrer de amor é mais fácil.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ATO #3



A moça, mais uma vez, deparou-se
com a realidade nua e crua da solitude.
Sim, pois solidão é o "eu" e nada mais,
mas não somos sós sozinhos.

Ah, Florbela, como tu sofres...
A paixão que te dá vida
é a mesma que te mata
[aos poucos.

Pegou pena, papel e tinteiro.
Pensou escrever sobre o vazio.
A folha permaneceu intacta.

Dali em diante era toda pranto.
E o peito pia...


*Ne me quitte pas



quarta-feira, 6 de julho de 2011

ATO #2 (APÊNDICE - ÓRGÃO INÚTIL)


Florbela há tempos não sabe o que é cor. Vê o mundo cinza.
Deita-se e aguarda, desesperançosa, o amado vir se deitar.

Ele chega. Eles discutem a relação no mais alto grau de abstração.
Têm uma briga homérico-ontológica.
E viram-se cada um para um lado.

Florbela resolve ler. E se obriga a concordar com Rubem Fonseca:
"Mas aquela conversa foi o início do fim. Na cama não se fala de filosofia".

segunda-feira, 20 de junho de 2011

TENDÊNCIA OCULTA


Passados remotos nunca
são inteiramente esquecidos.
E só me resta a imagem
de um tufo sórdido.
Mesmo que a consciência
trate de repelir a verdade,
o passado continua a assediar
minha mente.

Por quê, civilização, tu queres
que eu use da tua dinâmica?
Salve Eros ! Salve os pagãos!
Salve as mentes involuídas,
que lutavam unicamente por
obter prazer e afastar-se da dor...
E tu, realidade, deixa-me em paz.
Só por hoje.


Luiza Pontes.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Madalena




Que era de sua nobreza? Expulsa de Magdala.
Pobre mulher...
A quem os homens tinham
sede de apedrejar.
Homens, que na utopia de uma civilização,
caçam feito fera um motivo para serem
cruéis, perversos...

Vá, atire-lhe a primeira pedra!
Mas, não. Sabiam de seu pecado e isto basta.
Eis a pena do pecado, ele próprio.


Sigam, marias! Não pequem mais!
"O Filho do Homem está dentro de vós"...



*Detalhe de Maria Madalena na obra
Noli me tangere, de Giotto di Bodone


Luiza Pontes.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Que seria...



Ah, poesia!
Que seria de ti sem o meu sofrimento...




Luiza Pontes.

sexta-feira, 25 de março de 2011

CREDO MISTO


Sylvia Leão

Além de Deus, creio no Homem

também poderoso-

não criador do céu e da terra,

mas de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho

E em todos os Filhos dos Homens

Que não nasceram da Virgem Maria,

Mas de todas as Mulheres e que

Também padecem sob os muitos Pilatos

e diariamente são crucificados,

Mortos e sepultados no dia-a-dia que

Os consome e aniquila.

Creio naqueles que diariamente descem à mansão

Dos mortos- às fábricas, às filas dos desempregados,

São os mortos de fome, os mortos de esperança,

Os velhos abandonados, a mendicância

infante, os doentes que sequer se tornam pacientes,

os adultos que não sabem escrever o próprio nome.

Não estão eles sentados à direita do Pai, mas estão

Em pé, falidos, enfraquecidos, desdenhados

À espera de uma chance cedida

Pelos pais do Poder.

Creio no Espírito Santo- oh!, como creio!,

E em todos os outros espíritos-

racionais, dedutivos, indutivos,

intuitivos, dialéticos!

Creio na Santa Igreja Católica

E em todas as outras igrejas, em

todas as outras pedras que erguem a

Comunidade humana, humanizada.

Creio na comunhão dos santos- Agostinho,

Tomás, Terezas, Francisco e na

De todos os hereges- Sócrates, Bruno,Galileu

Espinosa, e, pelo jeito, eu!

Creio na remissão dos pecados, sim,

Daqueles que pecam contra uma nação inteira,

Contra todos nós, os seres vivos.

Creio na ressurreição da carne

Como libertação do corpo ante a fome,

a injustiça, a violência, a opressão.

Creio na Vida Eterna sem não antes crer,

na Vida Terrena, no hic et nunc

do Paraiso que há no

AMEM-se.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

{ }



O nada. Como é difícil pensá-lo.
Servimo-nos de imaginação para
suprir nossos limites [humanos].

Colorimos, pintamos, damos
formas e nomes.
Mas o que prevalece é a
ausência. Não a ausência
de, apenas a ausência pura
e seca.

Percebemo-nos nada. E
nunca saberemos se nada
é o que só existe lá...

Luiza Pontes.