terça-feira, 27 de agosto de 2013

FÜR ELISE

"Mesmo sem ter o sol, quero te dar luz por toda essa vida"



A mamãe confessa que assustou supor que tu, minha pequena, fosse fêmea. Por receio de te entregar pra um mundo assim tão cheio de machismos e uma pseudo-moral pré-estabelecida, imposta a nós. Mas quer saber? 'Não passar de uma mulher' é o que há de mais fantástico. Te carregar comigo, aqui dentro, é inefável. 


Não foi, biologicamente falando, a mamãe que determinou o teu sexo. Esse "XX" veio do teu genitor. E mesmo sabendo que eu vou te dar de presente esse mundo cão, mesmo com medo do que tu te transforme enquanto mulher, eu tô imensamente feliz em te saber Mulher. É por Simone de Beauvoir, Adélia Prado, Raquel de Queiroz, Cecília Meireles, Florbela Espanca e tantas outras Mulheres, que a mamãe se orgulha em te carregar no ventre, pequena Elise. Temos muito o que aprender e ensinar uma à outra.



Não, meu amor, nós não temos nossa origem da costela de Adão, 
NÓS É QUE PARIMOS O MUNDO!



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ATO #4






Florbela despenca ao seu mundopreto-e-branco.
Pesada de tempo,
com ânsia de mágoa,
o peito piando.


Na cabeceira dos anos, só tristezae poesia.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011



Da janela vejo o corpo
 Que se estende no espaço, em vívida vida,
Tão completo, tão completamente,
Que o corar de seu rosto cala a tristeza,
E o olhar, atento, vê a eternidade soprar-lhe...
Distraio-me, olho ao canto, vazio,
No sussurro do passar do vento;
Retorno os olhos à janela e passou,
Correu como quem vê distante o tempo,
Passou e vagou a rua, num silêncio marmorial,
Soprando a eternidade em minhas lembranças
E dói-me, deus, profundamente o coração.


Paulo Antônio.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

QUERENÇAS



Hoje acordei querendo cheiro de mato
Querendo a voz do silêncio
Querendo dias estáveis
Maravilhosas rotinas
Querendo amor de verdade

Hoje acordei com saudade
Querendo casa arrumada
Querendo abraços e beijos
sem fim

Hoje acordei querendo
E crendo
que dias melhores estão por vir.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um "Q" de Kahlo


Em dias de solidão,
quando a realidade se dá
nua e crua,
é possível notar:
aquilo que te mantém vivo
é também o que te mata.

E não se sabe quão melhor é
casar-se consigo
do que ter de doar-se a
indivíduo tão insuportavelmente
sincero.

Deixa-me, razão...
Sofrer de amor é mais fácil.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ATO #3



A moça, mais uma vez, deparou-se
com a realidade nua e crua da solitude.
Sim, pois solidão é o "eu" e nada mais,
mas não somos sós sozinhos.

Ah, Florbela, como tu sofres...
A paixão que te dá vida
é a mesma que te mata
[aos poucos.

Pegou pena, papel e tinteiro.
Pensou escrever sobre o vazio.
A folha permaneceu intacta.

Dali em diante era toda pranto.
E o peito pia...


*Ne me quitte pas



quarta-feira, 6 de julho de 2011

ATO #2 (APÊNDICE - ÓRGÃO INÚTIL)


Florbela há tempos não sabe o que é cor. Vê o mundo cinza.
Deita-se e aguarda, desesperançosa, o amado vir se deitar.

Ele chega. Eles discutem a relação no mais alto grau de abstração.
Têm uma briga homérico-ontológica.
E viram-se cada um para um lado.

Florbela resolve ler. E se obriga a concordar com Rubem Fonseca:
"Mas aquela conversa foi o início do fim. Na cama não se fala de filosofia".