segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


E A POEIRA SE FEZ LUZ
QUANDO O SOL ENTROU
PELAS FRESTAS DA JANELA.

MAS NO ACABAR DO DIA,
NÃO PASSAVA DE CINZAS AO CHÃO
ARRASTADAS E PISOTEADAS
PELOS PÉS DO ABANDONADO.

LUIZA PONTES.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tarde alaranjada



Não vi os cacos se partirem
Entre esses dias vazios
Cheios de espaço,
De transbordante quietude.
Seriam os últimos?
E o seu sorriso se abre
Com o vento desta tarde alaranjada,
Coberta de solidão,
Coberta de estalos de lembranças.
Somos jovens já velhos,
Espantados com a pesada liberdade,
Com o sossegar dos que não pensam,
Com o bailar das folhas caídas,
Com o amor que ainda nos comove,
Quando, nesta tarde alaranjada,
Eu vejo o seu sorriso
E me sinto morto, em paz.


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cortejo


Olhos secos
Tais quais as bocetas velhas
Das carolas que descem
O cortejo fúnebre
Do filho bastardo do seu Menelau

Não sei como posso viver assim
Pensando naquelas bocetas mal-cheirosas
Olhando esse cortejo ignóbil
Sem um pingo de pena do seu Menelau
E com os olhos secos



* Imagem: detalhe do olho de São João,
do quadro A descida da cruz, de Roger van der Weyden.